segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal de 2012



Mensagem de Natal de 2012

Vejo um Natal mais sereno e mais tranquilo, mais humano e mais verdadeiro. Há tempos que desejava viver uma época natalina como a desses dias. Cheguei a viver dias mais festivos, com mais humanidade no lidar das pessoas, mas neste século as pessoas pareciam estar mais distantes e um tanto quanto cristalizadas em seus egoísmos e indispostas a solidarizar com o próximo.
            Este ano, sinto uma presença maior do espírito natalino na vida das pessoas ao meu redor. Nunca vi tantos desconhecidos se desejando “Feliz Natal” uns aos outros com tanta profundidade do coração. Eles realmente desejam paz, amor, harmonia e prosperidade, apesar de tantos problemas que temos vivido.
            Parece que a possibilidade, mais fantasiosa que crente, do fim do mundo despertou nas pessoas um sentimento do “cair da ficha”. Está caindo a ficha de que não há mais como viver num mundo sem fraternidade e maculado pelas chagas do egoísmo. Nós temos que nos libertar das algemas e dos grilhões do medo, amando virtuosamente acima de tudo.
            Mas ainda há muitas fichas que precisam cair no coração daquelas pessoas endurecidas e sepultadas no egoísmo insincero do amor próprio excessivo. É preciso celebrar nos corações a verdadeira razão do Natal, que não se resume a uma nova televisão ou a um tablet comprados em 24 vezes sem juros no cartão. A verdadeira razão do Natal está na celebração da vida do Cristo.
            Apesar das divergências da historiografia a respeito do verdadeiro dia do nascimento de Jesus, seria um erro muito grande nos atermos ao seu nascimento físico, pois essa data deve celebrar acima de tudo, o seu nascimento dentro de cada coração. Embora muitos não acreditem em Jesus e não celebrem o Natal da mesma forma que a maioria, não há como negar que o mundo se enche de paz e harmonia nesses dias.
            É tempo de se perdoar, de buscar o convívio de diálogo, de aceitar o outro sem preconceitos e de amar sem limites. Que possamos celebrar o nascimento do Cristo em nossos corações, realizando uma ceia de benfeitorias e trocando o maior presente que Ele nos poderia ter deixado: o Amor.
            Que todos possam ter um Natal de luz, de verdadeiro amor e plenitude, abençoados pela chama da gratidão pelos novos dias de Regeneração que vêm caindo sobre o nosso planeta. Paz e bem!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Filipe Medon declama: Oração de Natal de Rabi, Rei dos Reis


Allan Filho canta sua música autoral Divino Irmão (Rabi) e Filipe Medon declama seu poema Oração de Natal de Rabi, Rei dos Reis, acompanhados por Thiago Camanho (piano) e Átila Rondon

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Oração de Natal de Rabi, Rei dos Reis



Oração de Natal de Rabi, Rei dos Reis

Não havia ao menos um lugar na estalagem
Para o nascimento do Governador da Terra
De Deus a mais perfeita semelhança e imagem
Nascia o próprio amor vencendo a guerra

Numa manjedoura, despido de qualquer riqueza
Recebíamos sua primeira lição de humildade
Não é preciso luxo nem mesmo dons de realeza
Para ser rico no império do amor e da caridade

O mundo todo parava a fitar a estrela guia
Pairava sobre a Terra uma vibração especial
O mestre, irmão e amigo Jesus nascia
E desde então celebramos a sua vida em cada Natal

Quiséramos nós ter o ouro reluzente da pureza 
A mirra e o incenso oloroso da bem-aventurança 
Quiséramos nós suportar a missão da pobreza
Com um sorriso sincero e simples de uma criança

O Natal não se resume a uma ceia e a presentes
Nem mesmo a roupas elegantes e comemoração
É tempo de consolar os pobres e impotentes
Levando a vida fraterna do Cristo a cada coração

Natal é vida e o dom mais perfeito do amor
É a celebração das virtudes do Rabi, Rei dos Reis
Que despido de toda vaidade se torna o ator
Da mais bela história que o criador já fez

Que possamos viver o Natal todos os dias
Através de nossas atitudes, com toda luz
Que possamos hoje compartilhar nossas alegrias
Em nome do nosso mestre e irmão, Jesus. 


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Se o mundo tivesse prazo de validade



Se o mundo tivesse prazo de validade

Se o mundo tivesse prazo de validade
E eu soubesse qual seria o último dia
Despiria meu corpo de toda vaidade
Faria uma lista de desejos e aproveitaria

Tentaria conhecer um lugar perfeito
E torraria meu dinheiro até o último cifrão 
Seria um aventureiro só com o direito
De respeitar as leis do meu coração

Navegaria por mares, desafiando os medos
Ajudaria sem receio e com toda paciência
Fugiria de quem soubesse meus segredos
Viveria sem qualquer pesar na consciência

Deixaria para o momento derradeiro
O desejo que me daria mais prazer
Nos braços de minha amada não seria o primeiro
Mas seria o último homem que ela pudesse ter.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

No fim da balada a menina chora


No fim da balada a menina chora

Que se apaguem as luzes da balada!
Agora ninguém é de ninguém!
Todo mundo bebe a sua vodka gelada
Até o feio termina com alguém

Pega uma, pega duas, pega dez
Beija, agarra, toca, desaparece
Todo mundo louco da cabeça aos pés
No outro dia você já se esquece

Mulheres-objeto, homens-vadios
Homens-infiéis, mulheres-piranha
Quando os copos estão vazios
Até mesmo o pegador se acanha

E no tuntz-tuntz da balada da pegação
Se apresenta a falta de amor verdadeiro
Quem usa seu corpo vulgar como diversão
Acaba sem amor, chorando num banheiro.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Telemarketing



Telemarketing

Estaremos transferindo a sua ligação
Pedimos um pouco de paciência ao senhor
Um momento, aguarde a desocupação
Do nosso atendente, por favor

Triiiiiim... Bliiiiiim... Bleeeem... Blom!
A sua ligação poderá ser gravada
Triiiiiim... Bliiiiiim... Bleeeem... Blom!
Selecione a opção desejada

Senhor, não entendi. O senhor pode repetir?
O senhor deseja aumentar o seu pagamento?
Acho que a ligação estará caindo, vai cair....
Confirmando: seu plano sofreu um incremento

O senhor não estará mais querendo o nosso plano?
O senhor estará querendo sair da nossa companhia?
O senhor não quer mais mensagens nem interurbano?
Aguarde uma eternidade para cancelar sua linha!


Shakesperare choraria



Shakesperare choraria

Shakesperare com absoluta certeza choraria
Se visse como está o amor no mundo atual
O amor, único e verdadeiro que existia
Parece estar enrustido numa realidade paradoxal

Pobre Romeu... Como conquistaria sua Julieta?
Não namoraria... Estaria num relacionamento sério 
Clicaria num botão mais rápido que um cometa
Para atualizar o status antes de desvendar seu mistério (em seu claustro monastério)

Galanteios, romance, olhares, cortesia, sedução
Já são coisas de um passado bem distante
Hoje a conquista é através de uma tal ficação
E não mais por uma declaração de amor apaixonante

Hoje não se namora, fica-se com as minas
E tome traição por não curtir mais
As donzelas que um dia foram tão finas
Oferecem-se vulgarmente como nunca atrás

Pobre Julieta... Custaria a encontrar seu Romeu...
Morrer de amor? Tão careta como fazer versos
Hoje o amor que um dia o poeta concebeu
É brega e cafona como farrapos diversos

Parece coisa boba, mas ainda existem românticos
O amor é o mesmo, só muda como é demonstrado
Ainda existem versos como no Cântico dos Cânticos
Mas raros Romeus como este pobre apaixonado.

sábado, 10 de novembro de 2012

O engenheiro das palavras


O engenheiro das palavras
Arquiteta com exatidão 
O que o pedreiro, em suas lavras,
Arremata com cimento e emoção. 

O lápis que planeja a estrutura
Numa caligrafia concisa e macia
É feito a paleta da pintura, 
Que mistura versos em harmonia.

A boa obra se auto-arquiteta,
Despreza o luxo da intervenção. 
Depois da lida está completa!

Seja na poesia ou na construção, 
O engenheiro é o poeta;
O pedreiro é o coração.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A vida passa


A vida passa 
E só permanecem
As coisas sem graça
Que não se esquecem:

O amor cultivado
A paz plantada
O carinho dado
A obra edificada.

Tudo vira pó
Mas não é pessimismo
Apenas um pouco de dó
Misturado com conformismo

Tanta gente que passa
Tanta gente que fica
A vida é massa
Mas tem gente que é titica

Mas no final das contas
O que se tem no final
É um bando de contas
E um amor pré-datado em cheque especial.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Lua azul

Somente uma lua azul para iluminar
Um dia profundo e cansado da lida
Ah, as estrelas circundam o luar
Numa noite tão serena e exaurida

Só mesmo a inspiração duradoura
Para resgatar a semente fecunda
Que consola a tez branca e loura
Da pobre e triste vagabunda

Lua de ricos, pobres e indigentes
De astronautas, físicos e leigos
Tantas imagens de tantas lentes
Tantos poemas simples e meigos

Lua azul, reflete a cor dos oceanos
Transfigura o manto dos anjos em véu
Lua azul, uma esfera envolta nos panos
Aquarelas de jasmim reluzentes no céu.


Dorme, velho!


Recostado em sua poltrona de conforto
O velho fez das almofadas sua retaguarda
E no cochilo, com o pensamento torto
O ranzinzo acabou abaixando a guarda

Deixou cair seu livro de romance fajuto
Rasgou seu jornal de notícias antigas
Apagou a última centelha do charuto 
Amargou suas lembranças inimigas 

Quicou a cabeça num cochilo suave
Dedilhou seu violão nesses intervalos
Ergueu com sonolência sua clave 
Seus sonhos estavam ainda mais ralos

Beliscou o último salgadinho do pacote
Enrolou seus bigodes, resquício de imponência
Mas tudo acabou num boicote:
Seus olhos sucumbiram à sonolência...

domingo, 7 de outubro de 2012

O ser humano


Quando vêm o revés e o rebuliço
As galinhas fogem do galinheiro
Os corvos tomam chá de sumiço
As vacas inauguram o puteiro

Os ratos abandonam o barco
Os gatos defecam na areia
Os abutres fincam o marco
Sobre a praia da velha sereia

Os covardes são como ratos
Desistem de encarar o desafio
Fogem pelos telhados como gatos
São cadelas correndo no cio

As vacas mugem na fazenda das personalidades
A traição das galinhas já é normal
Os corvos e os abutres cometem maldades
Será o ser humano um bicho racional?

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A caça às bruxas


A caça às bruxas está a todo vapor
Numa sociedade em vil transformação
O veneno da ingenuidade é o motor
Que corrompe a máquina da eleição

As placas sorriem em cada esquina
A ficha está mais limpa que pau de galinheiro
O trabalhador já enfrenta a sua sina:
Mais quatro anos de desvio de dinheiro

O homem é lobisomem do próprio homem
A virtude se cala em cada caixa dois
Depois de eleitos, os amigos do povo somem
O voto foi traído, ganhamos chifres como os bois

A política brasileira parece não ter remédio
Salvam-se poucos homens honestos e bons
Daqui a quatro anos saímos de novo do tédio
Tudo recomeça nas próximas eleições.

Na passagem


Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer choro nem lamentação.
Quero festa, salgadinhos e sobremesa
E minhas amadas levando meu caixão.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer que disfarcem minha velhice
Cobrindo minhas rugas num salão de beleza.
Quero deixar as marcas de minha rabugice!

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer o preto da dor.
Quero um ambiente de extrema pureza:
Alegre, saudosista, cheio de cor.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer filhos falando sobre testamento,
Pois terei deixado minha maior riqueza
Nas memórias e no meu conhecimento.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer mulher desesperada,
Nem mesmo ares de dor e tristeza:
Quero muita luz e muita risada!

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer terno de cerimônia.
Quero que se lembrem com destreza
Do velho romântico e sem-vergonha.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer falsidade nem inimigos.
Quero deixar o mundo com a certeza
Que deixei também um bando de amigos!

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Quero que minha amada chore sobre mim!
Pois viver um único dia sem sua beleza
Teria sido uma dor sem fim.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer flores em ramalhete.
E quem tiver me tratado com aspereza,
Que lhe mandem para a casa do cacete!

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer nada além de alegria.
Desprezo o fausto, o luxo e a riqueza:
Só quero ouvir o som das palmas e de minha poesia!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

As rosas de mel puro



As rosas de mel puro

Certas pessoas passam por nossas vidas
Como as abelhas voam pelo céu
E quando vêm as despedidas
Deixam saudade e gotas de mel

Feito anjos com asas recém-formadas
Alçam o voo da libertação gloriosa
Deixando as sementes plantadas
Nos jardins em que florescerão rosas

A dor da saudade é tão atroz
Que anestesia a razão e o tino
Parece que ainda ouvimos sua voz
Cantada pelos pássaros do destino

Mas o amor é maior que a saudade
E o coração é um porto tão seguro
Que quando partem para a eternidade
Deixam-nos rosas com gotas de mel puro.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Estará tudo pacificado?



Estará tudo pacificado?


Está tudo pacificado no jogo das ilusões 
Estão todos em paz atrás dos portões 
Dos muros altos, embaixo nos porões
Estamos todos guarnecidos por canhões 

Está tudo pacificado em terra de vendilhões 
Estão todos em paz sobre os vulcões 
Em constantes gozos e erupções 
Dos exércitos, das batalhas e deserções

Está tudo pacificado nas paixões 
Estão em paz os ricos e seus milhões
Enquanto o pobre e suas humilhações 
Amargam as algemas e os grilhões 

Está tudo pacificado nos batalhões 
Estão todos em paz nas canções 
Pela anistia dos vícios dos colhões 
Chovem armistícios e perdões

Está tudo pacificado nas quatro estações 
Estão todos em paz e em boas vibrações 
A primavera pede alforria às emoções 
No gelo seco do deserto e das monções 

Está tudo pacificado na terra das ilusões
Ninguém tem toda essa paz nos corações 
A antítese do ódio e do egoísmo são os vilões 
Que fazem o pranto de quem suplica por orações.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Umas comprinhas


- Um rodízio de alegria, por favor
Pediu o jovem poeta ao garçom
- Uma aspirina para um dia bom
Pediu o jovem poeta ao doutor

- Uma camisa de paixão, por gentileza
Pediu o jovem poeta à atendente
- Um título que me deixe mais inteligente
Pediu o jovem poeta à rainha e à princesa

- Uma cadeira de segurança, simplesmente
Pediu o jovem poeta ao marceneiro
- Uma conta que não guarde dinheiro
Pediu o jovem poeta ao bancário obediente

- Um porta-retratos para belas recordações
Pediu o jovem poeta ao amigo vendedor
- Um teorema para viver apenas de amor
Pediu o jovem poeta ao professor das equações

Terminando suas compras pelo comércio da riqueza
O jovem poeta foi ao lar de um sábio envelhecido
Que num sinal de amor sussurrou em seu ouvido
Que o melhor artigo era a pobreza:

“Um rodízio de alegria
E uma aspirina para um bom dia
Valem mais que uma camisa de paixão
Um título de inteligência, meu irmão
Só te dá uma cadeira de segurança
Para viver às custas do dinheiro, sem esperança
Mas uma moldura de recordações
E um teorema para viver a mais bela das emoções
São o segredo da vida em qualquer idade:
Pois é preciso, acima de tudo, viver com humildade”

Regeneração


Estamos nascendo de novo a cada dia
Como fizemos no princípio Monera
Em cada amanhecer, a esperança tardia
De resplandecer a mais bela era

União das diversas etnias e raças
Perdão acima de toda ofensa
Superando a tristeza das desgraças
A fé é a nossa mais valiosa crença

Atravessamos uma mudança na evolução
Caminhamos para um futuro melhor
No qual a palavra de ordem é regeneração
Através do esforço pessoal, do suor

As lágrimas derramadas nos desafios
Abastecem a correnteza tão comprida
Deságuam em oceanos e rios
Que hoje evaporam o amor pela vida.

Sentimentos no varal


No varal da vida secam sentimentos
Como os prantos amargos de outrora
Felicidades, infortúnios, tormentos
E uma emoção que ressoa no agora

Deixo secando sob a luz do astro rei
As tristezas e as melancolias infelizes
E por cima das dores que passei
Fazem ninho e defecam os perdizes

Deixo o amor muito bem estendido 
Para que ele logo se reestabeleça 
O ódio deixo encolhido e torcido 
Para que ele morra e desapareça

Meus pregadores são resplandecentes
E iluminam o meu varal de emoções
Pois que de tantos versos decentes
Esqueci-me de pendurar as minhas paixões.


sábado, 18 de agosto de 2012

Um ode à amizade



8º Sarau da Confraria da Poesia Informal
Estúdio S de Música - Agosto de 2012
Petrópolis

 Esse poema foi declamado em homenagem aos meus amigos que foram me prestigiar nesse Sarau. Uma singela forma de lembrar pessoas tão importantes.

Um ode à amizade

Um peito vazio, uma noite sem luar
Uma manhã sem sol, um olhar sem brilho
Um vulcão sem fogo, areia sem mar
Uma boca sem palavras, um trem sem trilho

Um buraco negro na órbita do coração
Um universo paralelo em desalinho
Uma estrela sem a cadência da constelação
Um pássaro sem asas e sem ninho

Eis um homem que não teve amigos
Que não soube confortar e ser confortado
Um fugitivo preso e isolado em abrigos
Por ter cedido à mácula e não ter amado

A amizade mais pura e verdadeira
É a arte de encontrar no semelhante
Um poço de felicidade sem fronteira
Um gesto de temperança a cada instante

Um amparo nos momentos de tristeza
Um júbilo nos de gozo e prazer
A mais pura e graciosa certeza
De existir um abraço no amanhecer

Uma acolhida sem preconceitos
Uma diversão feito a de uma criança
Uma mão que não aponta defeitos
Apenas aperta a outra com segurança

Amizade, perfeita tradução da alegria
Sinônima de festa e companheirismo
Luz resplandecente que contagia
Metáfora forçada que dispensa eufemismo

Amigo é para toda a vida e além dela
É o cultivo do jardineiro mais fiel
Que colhe a flor da amizade e pendura na lapela
O símbolo de um amor caído do céu!

É preciso ter um milhão


Descendo de cada morro
Com uma metralha na mão
O povo pedindo socorro
Vai rolar uma invasão.
Já cobriram com o gorro
A face da fúria e da repressão.

Em Planaltos tão centrais
Escorrem águas de cachoeiras
O exército vermelho quer mais
Poder em todas as fronteiras.
O dinheiro escorre, tanto faz
Vivam as velhas empreiteiras!

Nos morros, só há revolta
De quem sofre com a desigualdade
É um caminho sem volta:
É morrer ou seguir a marginalidade.
Agora é preciso de escolta
Para ter a pacificação da sociedade.

Em cada tribuna, em cada bancada
Há homens bem vestidos
Na favela tão desesperada
Há pobres e bandidos.
Querem a paz armada
Querem que sejam punidos!

O bandido verdadeiro
Não se sabe qual é
Quem tem dinheiro
Não liga para ralé.
E o velho romeiro
Ainda acredita na fé...

A ganância segrega a virtude
A estupidez cega a multidão
O medo exila a plenitude
O sistema exclui a união.
Não adianta ter boa atitude
Para ter paz é preciso ter um milhão


domingo, 5 de agosto de 2012

Entrevista concedida ao Jornal O Globo - 05/08/2012


Filipe Medon declama: Nobre arte de amar


7º Sarau da Confraria da Poesia Informal
Estúdio S de Música - Julho de 2012
Petrópolis

A subnutrida esperança


A subnutrida esperança

Marchando pelo solo arenoso
Em passos de despedida funesta
Sob o sol cruel, vilão e tenebroso
Ia a família com o suor na testa

Mais esquálidos e subnutridos
Que a derradeira esperança
Sangravam os pés doloridos
Da pobre e andrajosa criança

Com veias abertas e expostas
Os miseráveis paupérrimos do sertão
Carregavam o sofrimento nas costas
E a dor da partida no coração

Na frente rumava a cachorra
Que um dia trouxera felicidade
Na xícara quebrada só restava a borra
De um café catado na última cidade

O homem não tinha mais nome
A mulher já era uma Maria qualquer
Os velhos tinham morrido de fome
Da última refeição só restara a colher

Vida cruel, lugar ruim e miserável
Pobreza maldita, sujos e pegajosos
Por culpa de um alguém detestável
Definhavam como cactos espinhosos

Tão secas como aquele nordeste
Eram as bocas dos maltrapilhos
Que pelo barro fétido do agreste
Viam morrer de fome os seus filhos

Feito abutres, comiam os restos
Putrefatos na beira da estrada
Poderiam morrer, mas eram honestos
A lua era a lâmpada mais iluminada

Vida desgraçada dos retirantes
Se é que aquilo pode ser chamado de vida
Valentes, guerreiros e suplicantes
Eram a escória, gente não compreendida

O único direito legal era sofrer
A condição de ser humano não se aplicava
Era fugir da terra ou morrer
A subnutrida esperança era o que restava.

sábado, 28 de julho de 2012

Adeus, pássaro negro


Adeus, pássaro negro, adeus
Leve consigo toda essa escuridão
Vá de uma vez ter com os seus
No vale das almas sem coração

Vá embora, leve a tristeza
Que amaldiçoou a primavera
Vá, vá seguindo a correnteza
Porque aqui nasce uma nova era

Os dias despertam com vontade
As noites só vêm com boemia
E isso não é nem a metade
Da origem de tanta primazia

As flores respiram a suavidade
Do drama que ficou sem atriz
Vá, pássaro negro, vá de verdade
Porque aqui já é hora de ser feliz.

Dialogando com o medo


Sirenes! Luzes! É a polícia!
O medo se instala na sala
Há ruídos do lado da milícia
Vai chover bala!
Abaixar! Deitar! Se esconder!
É perigo iminente na porta
O sangue já vai escorrer
De tanta gente morta.
Vai descer pelas escadas
Do morro enfurecido
Quantas emboscadas!
Quanto bandido!
Desespero! Meu Deus! Está perto!
Se escondem nas vielas
Numa guerra ninguém está certo
Deus proteja as favelas!
Já furaram as paredes
São balas de metralha
Meu Senhor, vedes
Quanto homem canalha!
Nossa Senhora Mãe de Deus
Meu Oxum valente
Salve, Zeus!
Salve a nossa gente!
Estão do lado de fora
Vão invadir o barraco
É nessa hora
Que se vê quem é fraco.
Tanta vida desperdiçada
Cinco filhos para criar
Vida covarde e amaldiçoada
Os bandidos vão entrar.
Não mate! A súplica derradeira.
Pode se esconder na cozinha
Tem água na geladeira
Depois de dez prestações ela é minha!
Já abaixei! Já estou escondida!
Cuidado! Atrás da janela!
Vai acabar tendo bala perdida
Já está na hora da novela!
Anda! Corre! Atira! Se esconde!
Taxaram fogo no matagal
Os tiros vem não se sabe de onde
Já se sente o calor infernal.
Pronto! Vai embora de uma vez!
Ufa, parece que a polícia controlou
Essa foi pior que a do último mês!
Pega a cerveja que o jogo já começou

terça-feira, 24 de julho de 2012

Amar é...


Verbo, sentimento, clichê
Loucura, ação, expressão
Risada, lágrima, você
Tesão, carinho, traição

Perfume, eu, olhar
Silêncio, sexo, grito
Dor, saudade, cantar
Calma, tristeza, agito

Universo, poesia, tudo
Voraz, admiração, nada
Segredo, casamento, surdo
Aliança, votos, amada

Adjetivos, verbos, ações
Romance, ágape, cantada
Alma, corpo, corações
Amor, amor e mais nada.

Eu fui feliz nessa vida


Um sorriso de alegria no rosto
Um olhar de imensa afeição
Um gesto, um aroma, um gosto
Felicidade e amor no coração!

A vida é sempre mais completa
Quando regada com amizade
É destino e obrigação do poeta
Viver com alegria e humildade!

Mulheres, futebol, verão, piada
Amor, versos, samba, dança
Festa, sorriso, paixão, risada
Música, restaurante, vida mansa!

Cantar a alegria da vida é viver
Cada dia como se fosse uma despedida
Para no fim dos dias poder dizer:
- EU FUI FELIZ NESSA VIDA!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

7º Sarau da Confraria da Poesia Informal



Allan Filho canta "Eu sei que vou te amar" e Filipe Medon declama "Soneto de Fidelidade" no 7º Sarau da Confraria da Poesia Informal, realizado em Petrópolis no dia 18 de Julho de 2012.

Espera...


Doce apreensão
Forte espera
Latente tensão
E mais espera...

Suave medo
Bruto aguardo
Salvo segredo
Pesado fardo

Aguarda, espera
Paciência, espera
Calma, espera
E mais espera!

Exaspera
A fera
Quem soubera...
Quem dera...
Acabar
Com essa espera!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Um toque de magia




Toda vida requer um toque de magia
Um abracadabra, palavras estranhas
É preciso um pouco de segredo e fantasia
Para realizar as nossas façanhas

Um gole de poesia é mais que recomendado
Um trago de alegria é obrigação.
Como viver tão emudecido e calado
Sem deixar falar a voz do coração?

Confiança é pressuposto de guerra
Humildade é farda de glória eterna
É necessário o amor pelas coisas da terra
E não dar um passo maior que a perna

É preciso, portanto, muita paciência
Para saber viver com tranquilidade
Num toque de magia e obediência
Tudo vem com a maior naturalidade!

Um sentimento nascido nas flores


Louca aventura, um riso ardente
Um olhar tímido, quase disfarçado
Uma mulher: sedutora e atraente
Um homem: bobo e enfeitiçado

Nas posições do corpo, loucura
Nos pés pequenos, fantasia
Nas pernas frágeis, abertura
No amor instantâneo, poesia

De pele áurea e unhas mal feitas
No cheiro do xampu tão conhecido
A congregação de todas as seitas
De uma paixão, de um fogo contido

Na castanheza dos cabelos dourados
Calafrios, sussurros, arrepios, olores
E no tremor das pernas finas, recados
De um sentimento nascido nas flores.

sábado, 30 de junho de 2012

Uma homenagem a Vinicius de Moraes




Vem, Vinicius de Moraes

Vem, Vinicius, vem Poetinha Camarada
Vem fazer nascer poesia em nossos corações
Vem ser amigo, vagabundo, da pesada
Mas não se esqueça de trazer os violões

Vem, Vinicius, vem mostrar a morena flor
Vem ser operário na construção da nossa poesia
Vem sábado, vem hoje, vem o dia que for
Mas não se esqueça de trazer um cheirinho de amor da Bahia

Vem, Vinicius, vem trazer o sexo e a paz
Vem salvar Eurídices, vem trazer Orfeus
Vem viver cada segundo como nunca mais
Mas não se esqueça da luz dos olhos teus!

Vem, Vinicius, pois a vida tem sempre razão
Vem ensinar a regra três do teu aprendizado
Vem, vem declamar o Soneto de Separação
Mas não se esqueça do cachorro engarrafado

Vem, Vinicius, vem falar inglês, italiano, francês, espanhol
Vem ser diplomata, vem ser boêmio de Ipanema
Vem ser capoeira, insensato, vem falar de futebol
Mas não se esqueça de trazer as esferográficas para o poema

Vem, Vinicius, vem que a gente já vai levando a canção
Vem fazer Irene rir, vem ser Oxum em forma humana
Vem ser um menino valente e caprino, poesia e canção
Mas não se esqueça de trazer Emmett e Ariana

Vem, Vinicius, vamos para o Kabuletê, tumba lá e cá
Vem mostrar em que fria nós vamos entrar sem sentimento
Vem dar recados de Mãe Menininha do Gantuá
Mas não se esqueça de trazer o testamento


Vem, Vinicius, com sua Fidelidade e seu Amor Demais
Vem, antes que Pai Oxalá ou alguém por aí te procure
Vem matar a saudade, volte sempre que quiser, Vinicius de Moraes
Mas não se esqueça: que nosso encontro seja infinito enquanto dure!

sábado, 16 de junho de 2012

O homem tem que ser o cachorro do próprio homem


Estima-se que o Planeta Terra tenha por volta de 4,5 bilhões de anos e que o Universo ultrapasse a nona grandeza. O homem por sua vez, como Homo sapiens, habita a Terra por algo em torno de 200 mil anos. 
Esses dados servem apenas para mostrar o quão ínfimos somos diante da magnitude do Universo e do Planeta. O que são 200 mil anos perto de 4,5 bilhões? A resposta lógica seria dizer que nada. O que seriam ainda assim, 200 anos de 200 mil? Pouquíssima coisa. 
Entretanto, esses 200 anos, desses 200 mil, desses 4,5, dessa nona grandeza estão transformando radicalmente o Planeta onde vivemos. Muito se fala em desenvolvimento sustentável, no qual devemos nos preocupar em garantir um bom mundo para as gerações futuras. Mas a questão é: estamos realmente engajados nesse modelo, ou isso é apenas demagogia política?
Nos últimos 200 anos o homem acelerou e destruiu muito mais do que destruíra em 200 mil anos. Com o florescimento da Revolução Industrial no século XVII apoiada na burguesia capitalista ascendente, ele teve que buscar novas fontes de energia. Em pouco tempo a exploração da natureza começou a se intensificar. Surgiram novas fontes, queimamos combustíveis fósseis, mas a demanda era muito maior que as nossas reservas. Fomos obrigados a aumentar numa progressão imprevista. Quando nos demos por perceber, os problemas ambientais batiam a nossa porta.
            Começaram a falar em Poluição, Efeito Estufa, Aquecimento Global e outros mais. Exploramos o nosso Planeta com uma velocidade indiscriminada. Em pouco mais de 200 anos causamos muito mais danos que em 2000 anos como espécie em uma pequena linha do tempo da nossa relação desagradável com a Terra. Muitas organizações surgiram e muito vem sendo discutido. Reuniões, projetos, cúpulas e encontros vêm sendo feitos, cartas e protocolos assinados, mas para alguns parece que não há remédio: o Planeta está fadado à destruição.
            Essa é uma afirmação que vem sendo muito decorrente: “Se o homem não parar já, vai destruir o Planeta!” Todavia, ela está completamente errada. Para isso devemos repensar nosso conceito de destruição.
            A Terra já sobreviveu a muita coisa! As primeiras Eras eram absurdamente inóspitas. Vulcões, terremotos, abalos... O Planeta já passou por muitos! Glaciações? Fazem parte da rotina. O que não fazia parte de sua rotina, pelo menos até 200 mil anos atrás, era esse homem ignorante e inconsequente.
            De tão egoísta ele pensa que irá destruir o Planeta, sem se dar conta que muito antes do destruí-lo, ele já terá se autodestruído. As placas verdes fixadas nos outodoors dizem: “Vamos salvar o planeta!” Entretanto, não temos que salvar o Planeta. Temos que nos salvar, afinal, a Terra já sobreviveu a tanta coisa que não vai ser uma espécie de 200 mil anos que resolveu atacá-la há 200 que vai liquidar com sua história. Nós não seríamos capazes de viver sob as temperaturas esperadas para o futuro, nem mesmo sem o recurso mais fundamental para a nossa existência que é a água. Já a Terra, nos deu provas que conseguiria facilmente, como já o fez.
            Existe uma comparação muito simples que questiona a inteligência do homem com relação ao seu relacionamento de amor e ódio com o seu Planeta. Os tão apreciados dinossauros viveram cerca de 160 milhões de anos sobre a face da Terra com um cérebro muitíssimo pequeno comparado ao do homem. A sua inteligência em nada se poderia comparar cientificamente à do homem. Cientificamente. Racionalmente, uma espécie que causa em 200 anos danos mais profundos e graves do que seres que viveram por 160 milhões de anos, nos faz mudar um pouco os nossos conceitos de inteligência.
            O que nos difere dos dinossauros não é o tamanho do cérebro, mas o tamanho da nossa ganância e do nosso egoísmo. Segregamos, matamos, corrompemos e destruímos por um sistema econômico, enquanto que vivendo pela Segregação Natural de Darwin, os nossos amigos dinos pouco fizeram contra a Terra.
            Deveríamos repensar os nossos conceitos. A Terra poderia muito bem viver sem nós. Ela está mais do que acostumada com o aquecimento, enquanto uma elevação de poucos graus de temperatura seria letal para a manutenção de nossa espécie. O homem, como disse Hobbes, é o lobo do próprio homem. Enquanto ele pensa que está destruindo o Planeta, na realidade está se autodestruindo e se autoflagelando. Basta analisar os números! O que são 200 mil anos para um Planeta de 4,5 bilhões anos e um Universo de nona grandeza? Nada.
            Por esse motivo, devemos aproveitar para reforçar e reformular as nossas ações de preservação e sustentabilidade, para que seja bem feita a manutenção de nossa espécie. Por que não criar projetos fortes e ações concretas que visem à conscientização das pessoas paralelamente às de preservação e de obtenção de fontes de energia limpas renováveis? Por que não punir com severidade aqueles que degradam e acabam com as florestas, afetando os ecossistemas e destruindo as espécies? Por que não implementar aulas obrigatórias de Ecologia desde as séries primárias, a fim de incutir nas gerações futuras o pensamento de preservação? É preciso investir em educação! Só ela é capaz de construir um futuro sustentável.
            O povo também precisa se conscientizar do suicídio que está cometendo, ao invés de pensar que os problemas ecológicos e ambientais são apenas propagandas políticas para encontros de líderes. Além do suicídio, estamos cometendo uma série de assassinatos contra as espécies que estavam aqui muito antes de nós e que nada têm a ver com a ganância e a sede de poder desmedidas do homem. 
            Temos que usar esse nosso cérebro maior que o do dinossauro para sermos mais inteligentes e prosperarmos como espécies por muito mais que 160 bilhões de anos. O homem tem que deixar de ser lobo do próprio homem e ser o cachorro do próprio homem, pois como dizem no popular: o cachorro é o seu melhor amigo!
                                                                      

sábado, 2 de junho de 2012

A nossa brava gente


A terra brasileira é salgada pelo suor
De homens e mulheres que com bravura
Lutaram e construíram um lugar melhor
Crendo no porvir da geração futura

Primeiro foram os índios, os donos da terra
Que receberam os portugueses de coração
Numa ingenuidade que contraria a guerra
Dando início a nossa grande miscigenação

Vieram os negros, reis e heróis africanos
Nasceram os cafuzos e os nossos mulatos
Depois vieram os colonos de vários oceanos
E usurpadores um tanto quanto ingratos

O povo aguerrido trabalhava sem descanso
Extraía ouro da penha do interior
Carregando sempre o sorriso manso
Do filho que tem por sua terra imenso amor

Mais tarde veio para cá o rei Dom João
Que trouxe o dinheiro e o apuro intelectual
Mesmo que fugindo da espada de Napoleão
Fascinou-se pela terra, antes de voltar a Portugal

Deixou-nos seu filho Pedro, boêmio e valente
Que nos deu de presente a tão sonhada liberdade
Embora contrariando os desejos de sua gente
Assumiu que amava o Brasil de verdade

O negro mostrou a sua fibra e a sua raça
Que hoje estão no sangue de cada brasileiro
Livre das algemas da escória e da desgraça
Proclamou a república com o militar guerreiro

E nos braços republicanos da nova era
Pintores, músicos, poetas e artistas
Inspiravam o belo sonho e a quimera
De ganhar o mundo nos pés dos futebolistas

Vivemos anos de chumbo, de tristeza
A farda negra sepultou nossa liberdade
Mas esse povo conquistou a realeza
De imperar sobre a chaga da iniquidade

Somos filhos da terra de inconfidentes e caras pintadas
Nossos heróis dão dribles, nossa gente é guerreira
Temos as mulheres mais bonitas e mais amadas
Nós somos a brava gente brasileira

O pequeno vendedor de laranjas


Um homem lançou as suas sementes
A terra aceitou e fez nascer as laranjeiras
O passarinho bicou como se tivesse dentes
Mas ainda sobraram umas laranjas inteiras

O plantador resolveu dar as suas laranjas
Para que um menino as pudesse vender
Escondido por trás de suas mal cortadas franjas
Vendê-las era seu único jeito de sobreviver

Entrou no ônibus e se acordou com o cobrador
Daria a ele uma laranja por sua passagem
Mas algo triste e muito devastador
Ainda aconteceria em sua viagem

Enquanto brincava com seu único brinquedo
Suas laranjas saíram rolando pelo chão
Num olhar apreensivo de desespero e medo
Viu-me devolvendo-lhe o seu ganha-pão

O estribilho da cigarra que se agarra com garra


A cigarra se agarra com garra 
A cigarra se agarra feito louca
A cigarra se agarra com a garra
A cigarra agarra a língua na boca

A cigarra virou trocadilho
E se agarra com garra no poema
Não faz mal repetir o estribilho
Afinal, ela se agarra ao tema!

Falar da garra da cigarra
É se agarrar a uma esperança
É uma dicotomia sem marra
É fazer do verso uma dança

E é por isso que a cigarra
Se agarra com toda marra
E depois ainda se amarra
na boca e faz uma farra!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Eu vi


Eu vi a flor nascer no meio do asfalto
E o amor brotar num coração asqueroso
Eu vi a soberba e a vaidade caírem do salto
E o perdão surgir de uma ser rancoroso

Eu vi o rico dividir todas as suas riquezas
E o pobre aceitar a ajuda sem preconceito
Eu vi a fé vencendo todas as incertezas
E a verdade impondo o seu respeito

Eu vi a tristeza dar lugar a alegria
E o homem despejar as suas emoções
Eu vi a paz vencer os dias de tirania
E a revolução integrando os corações

Eu vi muitas atitudes boas por aí
E ainda hei de ver muitas novas realidades
Quando o mundo inteiro, junto, sorri
Acabam-se todas as desigualdades


Um homem feliz


Sua vida é canção e boemia
É verso simples e soneto
É felicidade e melancolia
É branco, transparente e preto

É antítese e metáfora paradoxal
É terno e chinelo de dedo
É sessão solene e carnaval
É fofoca e segredo

Sua vida é silêncio e grito
É calmaria e turbulência
É realidade e mito
É pudor e saliência

Sua vida é um contraste
Ele é um eterno aprendiz
É bom moço e traste
Não passa de um homem feliz!


A noite é valsa, a noite é dança

O sol já se põe nos limites do horizonte
Os cais noturnos brindam o novo agora
Um rastro de luz fugidia beija a fronte
Da esperança que renasce a cada aurora

A imensidão do adeus se dá no poente
A cascata cristalina espelha a luz do luar
A canção dos pássaros é silvo que pressente
A quimera real das estrelas refletidas no mar

A certeza de um novo amanhã é verdadeira
É chama que aquece o nascer do novo dia
É gritar na escuridão e enxergar a clareira
Numa eterna, profunda e amiga sinestesia

Lá vem o sol novamente com raios de esperança
Já se vai a noite com sua esmera sinceridade
O homem sabe que a noite é valsa, é dança
Por isso entrega sua vida ao sol e à claridade.

domingo, 20 de maio de 2012

Perdido no (uni)verso


Adentrei num universo
À procura da poesia
Encontrei o amigo verso
Que me guiou noite e dia

Foi num livro que encontrei Camões
Quental e Fernando Pessoa
Me perdi em versos e canções
Ah, mas que noite tão boa!

Encontrei o Boca do Inferno
Mas ele era pecador demais
Compôs comigo um soneto terno
E me disse: “Até nunca mais”

Encontrei Augusto dos Anjos
Que vomitava a sua poesia
Em meio a cítaras e banjos
Escarrava e tossia com alegria

Encontrei Drummond de Andrade
E conversamos com o leiteiro
Estava mais vivo que na realidade
Era gauche, itabirano e companheiro

Encontrei Cecília... Que adorável!
Se era isto ou aquilo, não descobri
Era sincera, amiga e afável
Triste? Alegre? Poeta, sorri!

Encontrei Fagundes Varela
Que estava agora com seu menino
Uma cena tão profunda e tão bela
Num Cântico de um lindo destino

Encontrei os inconfidentes
Que me confessaram um segredo:
Não morrera o Tiradentes
Casara-se com Marília muito cedo!

Encontrei o amigo Bandeira
Que me levou numa viagem
Conhecemos a Pasárgada verdadeira
Mas que bela imagem!

Encontrei um tal de Fernando Pessoa
Ricardo? Álvaro? Alberto Caeiro?
O Menino de uma mãe tão boa
Não sabia seu nome verdadeiro!

Encontrei um tal Casimiro de Abreu
Que valsava o seu poema de amor
Quando passou o Cisne Negro
Com seus broqueis e uma flor

Encontrei um gênio dito Joaquim
Estava com sua amada Carolina
E com os filhos Bento e Capitu, enfim
vivia com sua menina!

Encontrei o Poeta dos Escravos
Que falou de amor como poucos
Falamos de rosas e cravos
Tiramos as algemas dos loucos

Encontrei um certo Quintana
Conversamos sobre o Anjo Malaquias
E quando o bilhete voava pela ventana
Vimos passar Gonçalves Dias

Encontrei um tal Poetinha
Que merece mais de um quarteto
Amigo... Mestre... Capetinha...
Me ensinou a fazer soneto

Me ensinou a compreender o amor
Pois vivera um Amor Demais
Me mostrou o segredo da morena flor
Seu nome era Vinícius de Moraes

Foi quando acordei desse mundo
E trouxe comigo as recordações
Guardarei para sempre esse sonho profundo
De poesia, versos e muitas emoções!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Hipnose enfeitiçada


Vil e meretriz, moça e senhora
Cruel e insinuante, crua e mentirosa
De face clara, rubra que se cora
Que se esconde sob sua pele perfumosa?

Tanta vilania em sua alma, quem diria
Escondida sob a fronte de ingenuidade
Em versos sombrosos de sua fantasia
Indecorosos como a sua falsidade

Lasciva e bela, serpente e donzela
Conquista e enfeitiça com seu veneno
Como resistir aos encantos dela
E não beijar seu seio macio e pleno?

Lança seu cabelo, petrifica com um olhar
Espectro mosaico de uma única cor
Ofega, hipnotiza e ataca, sabe sufocar
-Senhora, é seu o meu amor.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mundo do face


O mundo anda muito globalizado
Talvez globalizado até demais
Hoje uma simples foto e um recado
Viram notícia em perfis e murais

Mundo feicebuquizado, em bom português
Quantas mentiras em cada curtição?
Quantas publicações você já fez?
Compartilhe, mas com moderação!

Pessoas se escondem por trás de um perfil
Tiram fotos pensando em quando vão postar
Choram quando ninguém as curtiu
E pior, se sentem mal se ninguém comentar

Frases soltas de Caio Fernando Abreu
Fazem do ignorante um culto poeta
Compartilha frases que nunca leu
Enquanto outros curtem de forma aberta

Quanta falsidade por trás de uma tela
Em contraste com as benfeitorias da tecnologia!
Salve o mundo irreal mais realístico de cada janela
Facebook, internet... Realidade ou fantasia?

terça-feira, 8 de maio de 2012

A esperança e os sonhos

“A esperança é o sonho do homem acordado”
Disse o filósofo, muitos séculos atrás
Entretanto, a precisão desse enunciado
Preenche as nossas vidas nos dias atuais

Quem nos dera sermos dignos de esperança
Aquela verdadeira, que contradiz a razão
Seja uma brincadeira simples de criança,
Seja o desejo mais profundo de um coração

É estar sonhando acordado o tempo inteiro
Com uma verdade concebida no âmago do ser
É lutar por um anseio primeiro e derradeiro
É um ideal revolucionário que alimenta o viver

Sonhos, esperanças, anseios, desejos, utopias
Realidade, desgosto, razão, loucura e tino
Viver sem um sonho profundo e sem fantasias
É morrer a cada dia na inércia de esperar o destino.

Aparência e essência

Quem vive apenas de aparência
Acaba tendo um choque de realidade
Quando percebe que a própria essência
Resume-se a criar e cultuar uma inverdade

A aparência conquistada pelo exterior
Deixa transparecer apenas o superficial
Preenche um vazio imenso no interior
De uma escravidão desumana e paradoxal

O homem, escravo do próprio homem
Escravo da aparência que o constrói
As mentiras e a insegurança o consomem
Enquanto ele mesmo se destrói

As forças opostas lutam pela dominação
A essência luta para tentar aparecer
Mas a aparência ofusca a beleza do coração
Com seu ouro que só reluz, sem nada conter.

Liberdade




Liberdade

Há sempre um vilão dentro de cada mocinho
E um herói dentro de cada antagonista
Em toda porta fechada há um caminho
Em todo homem resoluto há um artista

Cobiça extrema, capitalismo, dinheiro
São capazes de fazer o homem matar
Assassinar a própria liberdade, coveiro
Enterra a flor que seus pais o fizeram plantar

Chora a humanidade, sofrem os honestos
Choram mães, sofrem os filhos perdidos
Os dias são tristes, amargos e funestos
Os dons são abafados por vícios bandidos

Onde estará o mocinho de cada vilão?
Onde estará a justiça e os princípios de igualdade?
Onde estarão os sonhos de um coração?
O mundo clama por um único direito: liberdade!


Eu digo salvem



Eu digo salvem

Salvem as gotas de orvalho
E as douradas maçãs do sol
Protejam as folhas do galho
E também as pétalas do girassol

Chuvas e prantos, única mistura
Abastecem um rio caudaloso
Entre flores mortas e seiva pura
Renasce o fruto tão misterioso

Salvem o verde e as matas
Salvem os bichos e todo ecossistema
Salvem os rios, as geleiras e as cascatas
Vamos acabar com tanto problema?

Protejam o mundo, a natureza
Salvem e lutem pela bandeira da Ecologia
Preservem a fonte inesgotável de riqueza
Que não cabe nesta simples poesia.

Um amor medieval



Nas fortalezas de um feudo
Havia um nobre cavaleiro
Que lutava em segredo
Por seu sonho verdadeiro
Era bravo e corajoso
Herói, mocinho e vilão
Embora não fosse tão ditoso
Tinha um grande coração
Defendia o seu senhor
Protegia os seus pais
Era um grande trovador
Lutava pelo bem e pela paz!
Batalhava mascarado
Não revelava sua identidade
Tinha um sombrio passado
Ninguém sabia sua verdade!
Chegara depois de moço
Fora adotado por camponeses
Que eram donos de um poço
E acolheram-no por meses
O tempo passou, deixou o lar
Mas não se esqueceu dos seus
Sempre voltava para ajudar
Era mais um filho de Deus.
Esse destemido cavaleiro medieval
Tinha uma grande amada
Seu nome era segredo sepulcral
Guardado na ponta de sua espada
Certa vez foi recrutado para uma batalha
Contra um temido senhor suserano
Não poderia levar nem uma migalha
Poderia lutar por mais de um ano!
Saiu com sua máscara de ferro
E com seu escudo de proteção
Antes deu um sonoro berro
E partiu com seu cavalo bonachão.
Foi posicionado na linha de trás
Demoraria para chegar a sua vez
Mas os seus morreram cedo demais
Na linha de frente sobraram três.
Com a ponta de sua espada feriu um rival
Foi então perseguido por outro cavaleiro
Nenhum deles queria o mal
Eram obrigados o tempo inteiro
O trovador resolveu fingir-se de morto
Após um golpe que o atingiu de raspão
Caiu no chão, imóvel e absorto
Depois de horas, foi embora o batalhão.
Levantou-se sob o sangue empoçado 
Viu o corpo de um grande camarada
Sentiu-se extremamente amaldiçoado
Poderia ter sido a sua amada.
Recolheu suas tristezas e seguiu seu caminho
Voltava ao reino de seu senhor
Nunca estivera tão sozinho
Quando se deparou com uma flor
Nascida no meio da terra arenosa  
Naquela mistura de sangue com suor
Brotara a flor, bela e formosa
Inspirou-lhe a dar o seu melhor
De volta ao reino resolveu ser feliz
Todos davam como certa a sua morte
Era o cavaleiro que sobrevivera por um triz
Estava lançada a sua sorte
Todos queriam saber quem era o ditoso
Todas as donzelas o queriam sem tê-lo visto
Mas o trovador sentia-se desgostoso
Por não ter o seu amor tão bem quisto
Não revelaria jamais a sua identidade
Pois sua amada não o quereria
Foi quando teve a ideia e a maturidade
De compor-lhe uma cantiga de poesia.
Seu senhor armou-lhe um palco pomposo
Onde ele deveria descobrir seu rosto
Foi quando cantou sua lira, tão amoroso
Que sentiu na boca um doce gosto:
“Minha donzela, rainha de meu coração
Serpente, bela, enfeitiça meus dias
Doma este seu branco alazão
Provoca as mais belas alegrias
Amo-te como cavaleiro, como amante
Num amor sincero e verdadeiro
Neste simples verso galopante
Declaro o teu nome primeiro
Rainha bela, doce e imaculada 
És a razão de toda a minha sabedoria
Donzela, minha alma está enfeitiçada
Pela tua beleza, oh bela Sophia”
Naquele instante surge no meio da multidão
Uma jovem e delicada mulher
De cabelos loiros, castanhos
Do jeito que o trovador quer
De seios formosos e tamanhos!
Com seu vestido de seda esvoaçante
De menina mulher encantadora
Naquele mesmo instante
Ele retira sua máscara assustadora
O MUNDO PÁRA! AS RIMAS SE PERDEM!
O BEIJO ENFIM ACONTECE!
O povo aplaude, sua mãe chora
Seus amigos riem, seu pai comemora
Sophia era sua amiga de criança
Mas o destino o separara de seu amor
Tudo o que deixara fora a esperança
De um dia reencontrá-la, destino sofredor!