domingo, 24 de agosto de 2014

Mais carpe diem, por favor

Eu gosto mesmo é de ser livre
Gosto mesmo é da liberdade
De ser pássaro solto no mundo
De ser vento sem obrigações

Gosto mesmo é da conquista
De desbravar o novo, o horizonte
Ser sensível, embora firme
Caminhar sem temer o suspense

Ser dono do próprio nariz
Ser rebelde sem ser ingrato
Honrar as cores do país
Lutar por uma ideologia

Gosto mesmo é de ser livre
De ser um eterno sonhador
Gosto mesmo é da vida
Mais carpe diem, por favor!

Eu e o tempo

Suave tiquetacar das horas
A girar os ponteiros inquietos
Que são como velhas senhoras
Sábias e doces com seus netos

Mas as horas sabem impor
Um compasso diferente do normal
Como a maratona de um corredor
O relógio apressa o temporal

A noite chega sorrateira
O dia passa tão depressa
A saudade é dor verdadeira
A perfeição é inimiga da pressa

Tempo, dito senhor do destino
Tempo, amigo íntimo e vilão
Tempo, deixai-me ser sempre menino
E percorrer o trem da vida em cada estação

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A Ariano Suassuna


A Ariano Suassuna

Quando vejo Suassuna
Revigoro meu amor pela arte
Vejo que o homem parte
Mas a obra continua

Quando vejo Suassuna
Me dá alegria em escrever
Acredito que posso viver
Uma vida de poesia

Quando vejo Suassuna
Não temo a Caetana
Tenho alma humana
Tenho alma de menino

Quando vejo Suassuna
Acredito no riso
Dou um singelo sorriso
E choro de alegria

Quando vejo Suassuna
Celebro a paz no mundo
Sinto o mais profundo
Vibrar da emoção

Quando vejo Suassuna
Escrevo com felicidade
E faço com a morte, um acordo
Sabendo que o homem é livre

Quando vejo Suassuna
A dor é esquecida
E num auto de uma Compadecida
O céu traz um auxílio

Quando vejo Suassuna
Tenho a absoluta certeza
Que o homem parte 
Mas deixa a sua arte.

De um admirador emocionado,
Suassuna, muito obrigado!

Agradeça o dom

Veja o dia que nasce lá fora
A esperança que se redescobre
A cegueira boa que dá na hora
Que o sol surge do mar e sobe

As gaivotas que mergulham no mar
Em busca do peixe de cada dia
O descanso merecido do luar
Que dá vez a uma manhã luzidia

O fruto que revive da semente
A brisa que vem e vai embora
Seguindo a direção do poente
Sem ter pressa, sem ter hora

Respira o ar livre e perfumado
Que as flores emprestaram o olor
Agradeça o dom de estar acordado
Para viver uma vida com mais amor!

Deixa a chuva cair


E lá estava ela... No lugar onde menos poderia imaginar e de onde, hoje, não consigo me lembrar... Uma coisa é certa: era a entrada de algum lugar. Poderiam ser os portões cinzentos e sujos de uma faculdade, mas o lugar tinha mais cor. Poderia ser a entrada de um cinema, mas como o encontro foi por acaso, não poderíamos nos encontrar, os dois, sozinhos ali. Poderia ser a entrada de um estádio de futebol, muito provavelmente o Maracanã, num dia chuvoso. Sim. Maracanã. A imagem da memória acaba se autoconstruir (ou seria reconstruir?) na minha mente inquieta que teima em registrar poeticamente aquele momento.
Olhares surpresos... Um não sabia o que o outro estava fazendo ali, havia um certo espanto no ar. Um ar de mistério, como o olhar de esfinge que me desafia cotidianamente. Duas peles brancas, quase pálidas diante do sol que se escondia por trás das nuvens cinzentas de uma chuva que só chovia ao redor, mas não chovia em nós. Talvez estivéssemos sob a proteção de uma marquise, ou nem mesmo estivesse chovendo.
O ar de mistério continuava a se propagar, cada vez mais próximo daqueles olhos de jabuticaba verde (se é que existe jabuticaba verde) que vinham ao meu encontro. Poucas palavras foram ditas e essas poucas só queriam expressar o espanto naquele (re)encontro ali, naquele lugar tão insuspeitado. Não fazia muito tempo que os dois viriam se encontrar perto dali, numa comunhão do destino, num acaso planejado, numa coincidência prevista.
Mas o que viria em seguida era tão imprevisto quanto os olhares que se fitavam, inquietos, naquele frisson de mistério. Como era bom desbravar o desconhecido. Do nada, tudo ao redor parecia ter sumido: as pessoas, a chuva, o vento, o frio. Agora eram apenas os dois, nós dois. Quem somos nós? Quem éramos nós? O que somos nós? Por que estamos aqui? Estamos aqui?
Diante de tantas dúvidas, não parecia haver outra saída, senão concretizar aquilo que era inevitável. Do amor ao ódio, do ódio ao amor. Do amor ao amor. De um primeiro encontro a um derradeiro que poderia querer apagar o passado e despertar algo novo.
Foi então que, naquele ar de conquista, de mistério, insensatez, loucura, medo, apreensão e amor, tudo (ou nada) aconteceu: o encontro dos olhos fomentou e incendiou o encontro das bocas, que gentilmente se tocaram com a voracidade insana de dois leões que se atracam por um pedaço de carne. Os cabelos negros e esvoaçantes da mulher, emaranhados no pescoço do homem, envoltos nos perfumes opostos, que se perdiam no olor dos corpos em profusão. Em chamas.
Logo os braços começaram a se mover, como garras que se agarram com força, mas que ao mesmo tempo sabem acariciar com maciez e doçura. Uma doçura apimentada pelo ódio que os separava, mas que agora os unia pelo beijo. Nós, ali. Os braços que antes seguravam a cabeça, escorriam pelas costas frias, como os pingos de chuva que agora caíam sobre os corpos em chamas. Porém água alguma poderia apagar aquele fogo.
Demorados, intensos, inesquecíveis momentos. Uma vida em minutos, uma vida de amor e ódio naquele beijo maniqueísta, doce, naqueles lábios vermelhos como o sangue, num rosto pálido e frio como a neve. Doçura, tentação... Mordidas, carícias, olhares, pegadas, sentimentos puros e absurdos. Quando as bocas se separaram, se desuniram, o magnetismo inverteu seus pólos, o ódio se tornou amor. A raiva se tornou paixão. E aquele sonho acabou. Teria outro começado? Ela nunca existiu.

Amigo, meu amigo

Amigos distantes, sempre amigos
Reencontram-se a cada novo dia
Compartilham dos mesmos abrigos
Sorriem de sincera e pura alegria

Pássaro da amizade, fênix no céu
Cometa que mergulha e sobrevoa
Casamento que dispensa o anel
Pessoa que entende outra pessoa

Nem mesmo o tempo e a distância
Conseguem separar tanta união
De ontem, do berço, da infância
Amigo, verso, poesia e canção

Na música, na festa, na treva
Na alegria, na dor e na saudade
Amigo é um presente que se leva
Da vida para toda a eternidade!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O jogo começa agora

A bandeira ainda balança na varanda... O verde, o azul e o amarelo, que a maior parte das pessoas acha que simbolizam a mata, a água e as riquezas, mas que na verdade eram as cores presentes nas dinastias do nosso Império. Lá está ela. Ventando junto com o vento, brisa que carrega a refrescância e o suor de um Maracanã, a poucos metros de distância. A lua, de tão redonda, até parece uma bola de futebol. Nada mais propício para uma final de Copa. E a flâmula continua bailando com o vento. Em certos momentos ergue-se e fica suspensa no ar, como se uma nação invisível a sustentasse com a energia de um povo que luta. O movimento da bandeira no ar lembra os cabelos de uma mulher: soltos e levados pelo embalo do vento. O silêncio nas ruas é feroz. Só mesmo o barulho dos carros para romper com a tristeza da ausência de som. Uma chuva fina começa a cair, como se as lágrimas de um povo escorressem lentamente pelo céu febril de uma nação assustada. O futebol perdeu. Mas o povo continua. Dentro de poucas horas as pessoas começarão a retirar seus enfeites das casas, lojas, praças e avenidas... A seleção perdeu, por que continuar com bandeiras? A resposta é simples: porque a verdadeira Copa ainda vai começar. Todo ano de Copa é ano de eleição. Terminado o futebol, é a vez do espetáculo da democracia. Um voto vale mais do que um gol. O fair play é essencial para evitar faltas e corrupção. Tão distantes, mas tão próximos, a Copa e as eleições se encontram. A bandeira, símbolo do nacionalismo e do apreço pela seleção, deveria permanecer ao sabor do vento, erguida nas janelas de um berço esplêndido, ao som do mar e à luz de uma nação que brilha. Brilha por seus craques, dentro e fora de campo. Diferentemente da Copa, somos todos técnicos, com igual poder de escalação. Escolhemos nosso time, nossos craques, com responsabilidade, consciência e com a emoção de quem quer ver uma bandeira sendo erguida com orgulho a qualquer momento do ano. A minha bandeira não vai sair da janela. Essa é minha forma de protesto e o meu grito para romper com o silêncio do medo. A verdadeira Copa está começando. Vista o seu uniforme, envolva-se na sua bandeira e vote com consciência. Apito inicial. Que comece o jogo. 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Aprendi com Leminski


Aprendi com Leminksi
Que menos é mais:
Menos palavras,
Mais interpretação.
Meu ponto final,
A sua imaginação.

*
Versos, ao contrário
Do que dizem,
Ao avesso dos que falam,
Só querem dizer
Que dizem e não falam.

*
Num espaço
reduzido,
Numa panela
de pressão,
As palavras
e os homens
Descobrem a
inspiração.

*
Eu gênio,
Eu, gênio,
Eugênio
Eu, gênio.
Eugenia,
Quem diria:
Eu, louco!

A poesia pulsa!

Diz o verso
Coisas que não se podem escutar
Diz a poesia
Verdades que o coração silencia

Revela o poeta
Detalhes que passam despercebidos
Acaricia a rima
Os ouvidos dormentes de tédio

Saboreia o leitor
Palavras vindas do mundo da inspiração
Absorve o mundo
Tudo aquilo que ele mundo não entende

Sepulta o papel
Aquilo que deve ser dito e queria fugir
Finaliza o verso
A grande certeza: a poesia pulsa!

Diante de tanta loucura teórica, a incerteza é a única certeza

Teorias, teoremas
Teses, tratados
Soluções, problemas
Pacíficos, armados

Princípios, fundamentos
Mediato, imediato
Opiniões, argumentos
Doutrina, fato

Objetiva, subjetiva
Direto, indireto
Progressiva, regressiva
Abstrato, concreto

Chaves dialéticas
Concretude, vagueza
Ideias ecléticas.
Certeza: incerteza!

Sub-humanos

Esquecidos, jogados, abandonados
Largados, desamparados, f*didos
Impedidos, proibidos, maltratados
Humilhados, desesperados, vencidos

Condição inferior ao mais inferior
Dos seres humanos em vilania
Expostos ao frio intenso e ao calor
E ao relento da desumana covardia

Um problema, um problema social
Uma mazela, uma questão urbana
Uma poluição, uma chaga, um mal
Uma vida? Se vida, sub-humana!

Dormindo, subsistindo, na torpeza
No ambiente fétido, putrefato e pueril
Das calçadas da dor e da pobreza:
Meindignos, esquecidos, desse Brasil.

Recomeço

Renascer feito fênix, sem mitologia
Recomeçar dos cacos, dos pedaços
Reinventar-se, de novo, a cada dia
Renovar e refazer os velhos laços

Permitir que o novo se empodere
Do passado que já foi, que passou
Ouvir os conselhos que sugere
A nova aurora, que já raiou

Redescobrir o prazer cotidiano
Conhecer os novos prazeres
Viver a essência de ser: humano!
Dizer poesia, não apenas dizeres

Recuperar as forças abaladas
Ressurgir das cinzas do passado,
Renovando as esperanças, aladas,
De um futuro ainda a ser conquistado!

Dormindo eternamente em berço esplêndido até que o barulho nos acorda do sono profundo

O país se veste de verde e amarelo
O hino entoa nas bocas mais variadas:
Do sorriso completo ao banguelo
Todos celebram das arquibancadas

O patriotismo está em alta nesses dias
O orgulho é genuinamente canarinho
É hora de comemorar as alegrias
De um país com esperança no caminho

Tudo é festa: bandeiras, adornos...
Sorrisos multifacetados de um povo campeão
O Cruzeiro do Sul preenche os contornos
De um país que hoje se vê como nação

Viva a Copa do Mundo! Viva a diversidade!
Tem gente do mundo todo na cidade!
- Moço, estou com fome, tem um trocado?
O povo não foi convidado (para a festa aqui ao lado).

Aurora, qualquer aurora, minha aurora

O horizonte se colore de aurora
De aurora, não da aurora, diria.
A aurora, essa que vem agora
Essa que avermelha o meu dia

Meus olhos vêem tudo e nada
Observam, fitam, desorientados
Em busca de uma vista adorada
Ou de sonhos ainda não sonhados

Dali vejo o futuro e o presente
Em comunhão com o pretérito
Formando um sonho ausente
Ou um vasto e detalhado inquérito

As cores da aurora, sem ser a boreal
Acariciam minhas retinas daqui
Num espetáculo humano e astral
Que projetei no horizonte logo ali.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Confraria da Poesia Informal na Câmara Municipal de Petrópolis



Como um dos membros fundadores da Confraria da Poesia Informal, fico extremamente orgulhoso e lisonjeado por termos dado este passo tão importante para a nossa jornada poética. Do sonho da poetisa Catarina Maul, do grupo do Facebook, dos saraus mensais, da Antologia Poética lançada na Bienal Internacional do Livro, dos poetas ao redor do mundo, do blog... 


Fomos convidados para inaugurar o I Sarau do Palácio Amarelo na Câmara Municipal de Petrópolis, dentro do projeto Arte na Câmara, que já vem acontecendo desde o ano passado. Levamos poesia, teatro, música, varais poéticos e toda a nossa informalidade.

Os vereadores despiram suas gravatas ao fim de um debate no plenário e inverteram de posição conosco: o plenário era nosso, como deveria ser sempre, e eles nos escutaram.

Sinto muita satisfação por ter podido abrir esse evento e, mais ainda, por ser membro dessa Confraria, desse sonho, dessa realidade. Essa conquista é de todos nós. Registre-se aqui o nosso agradecimento à Câmara Municipal de Petrópolis, na pessoa de seu presidente Paulo Igor e sua organizadora de eventos, Andréa Lopes. A Casa do Povo foi aberta para o povo!

Muito mais que uma moção, demos o passo inicial para uma caminhada frutífera entre a Política e a Cultura, entre os Vereadores e o Povo.

E que possamos, através da arte, cobrar também por melhorias e pelo pleno exercício dos nossos direitos.

É muito melhor quando caminhamos de mãos dadas, com transparência, honestidade e compromisso com a verdade.

Parabéns à Câmara pela iniciativa e pela Confraria, por sempre inovar, buscar o novo e transformar o mundo que nos cerca com o poder da arte.

Abertura do I Sarau do Palácio Amarelo



Poema apresentado na abertura do I Sarau do Palácio Amarelo, no dia 20 de fevereiro de 2014 na Câmara Municipal de Petrópolis. 

Hoje é dia de poesia na Câmara

Vejo um palácio, suntuoso e amarelo 
Que em seu jardim tem uma águia como adorno 
Paredes clássicas como as de um castelo 
Coloridas por poetas em seu entorno

À frente vê-se outro palácio majestoso 
Que reconta a história de um Império 
Ambos cercados de um luxo garboso 
E de uma política coberta de mistério

República e Império, dualismo antitético...
Palco e microfone da política cotidiana 
Servindo a um propósito menos cético: 
Dar voz à cultura e à arte petropolitana!

A águia se faz fênix e renasce a cada dia 
Quando as portas se abrem para o novo.
Hoje é dia de comemorar a cultura e a poesia;
Hoje é dia de abrir a Câmara para o povo!

Os quatro elementos estão incompletos


Os quatro elementos estão incompletos

Água, espelho natural que me reflete
Terra, maciez onde repouso meu fardo
Ar, vento, carinho que à noite me acomete
Fogo, chama que criei e onde ardo

Correnteza que leva as lágrimas e as dores
Solo que sustenta caules, pétalas e raízes
Brisa que acaricia as mais variadas flores
Fagulha que incendeia sonhos (in)felizes

Quatro elementos regem o universo
Como vórtices incompletos que se procuram
Feito a rima torta em busca do verso
Feito amantes que se amam e se juram

E se houvesse ainda mais um elemento
O amor seria a minha maior aposta
Pois de nada adianta o fogo ou o vento
Se não se pode ter aquela de quem se gosta.

Uma noite em Copacabana


Uma noite em Copacabana

Cheiro de mar beijando a areia
Sabor de sal, agridoce e primaveril
Pássaros que encontram sua ceia
Numa água refrescante para um dia febril

Pessoas que passam, só passam
Sentam-se, conversam, se sentem
Saboreiam-se, se beijam, se enlaçam
Olhares que se entendem, se consentem

Noite de verão, brisa de primavera
Refrescante, carregada de sabor
Dois amantes sentados à espera
Do por do sol de um novo amor

Pés que se perdem na areia fria
Descalços, despidos do vão capital
Tateiam e absorvem toda a energia
De uma natureza simples e animal

A brisa traz sabor de maresia
O vento salgado se liquefaz no suor de verão
Uma noite de plena paz e poesia
Numa sinestesia doce ao coração.

Lua branca, lua pura: boa noite!


Lua branca, lua pura: boa noite!

Quando as luzes se apagam na varanda
E os prédios ao longe desaparecem no breu
Escuto o cair da noite em ritmo de ciranda
Enquanto caem estrelas no sonho meu

Vejo a lua no céu: branca, porosa feito queijo
Crateras que escondem na minha imaginação
Um antigo, alegre e muito precioso desejo
De ser livre para voar pelo céu da inspiração

A noite cai, as estrelas caem, o silêncio impera
Os olhares se perdem na vastidão do horizonte
É noite de verão, mas sinto a brisa da primavera
E escuto sons de cachoeira, cristalinos como fonte

Sinto o vento roçar meus cabelos, sem rumo
Sinto o calor se aconchegando, com doçura
Sinto a noite coroar meu dia, sem prumo
É chegada a hora de dormir: Lua branca, lua pura!

Cai a neve no verão tropical

Acordei buscando um verso frio
Que pudesse amenizar o calor
Mas acabei despejando no (R)rio
Rimas suadas, sem nenhum frescor

Olhei para o céu e pedi um temporal
Mas os astros entenderam errado:
Desceu sobre mim um vendaval
Que me tirou do eixo, descompassado...

Perdidos num horizonte montanhoso,
Meus olhos enxergavam neve
Onde se via um verde perigoso.

Naquele momento, me senti mais leve
Imaginando um futuro branco, glorioso...
Mas vida é longa e o sonho é breve (feito a minha neve)...

Atropelíngua

Este poema é o resultado concreto
Do atropelamento de uma língua inquieta
Que teimava em sair varrendo o teto
De dentro da louca boca do poeta

O músculo rubro, já causara acidentes
Das mais variadas formas possíveis
Toda vez que se chocava com dentes
De mulheres, em chamas, e insensíveis

Euforia, histeria, sinestesia, quem diria...
Boca de poeta aberta para novas aventuras
Boca de poeta, local de verbo e gritaria...

E em meio a mais um encontro às escuras
O músculo lúdico, sádico e varredor diria:
Atropelada a pelada boca por dentes de loucuras.