quinta-feira, 24 de julho de 2014

A Ariano Suassuna


A Ariano Suassuna

Quando vejo Suassuna
Revigoro meu amor pela arte
Vejo que o homem parte
Mas a obra continua

Quando vejo Suassuna
Me dá alegria em escrever
Acredito que posso viver
Uma vida de poesia

Quando vejo Suassuna
Não temo a Caetana
Tenho alma humana
Tenho alma de menino

Quando vejo Suassuna
Acredito no riso
Dou um singelo sorriso
E choro de alegria

Quando vejo Suassuna
Celebro a paz no mundo
Sinto o mais profundo
Vibrar da emoção

Quando vejo Suassuna
Escrevo com felicidade
E faço com a morte, um acordo
Sabendo que o homem é livre

Quando vejo Suassuna
A dor é esquecida
E num auto de uma Compadecida
O céu traz um auxílio

Quando vejo Suassuna
Tenho a absoluta certeza
Que o homem parte 
Mas deixa a sua arte.

De um admirador emocionado,
Suassuna, muito obrigado!

Agradeça o dom

Veja o dia que nasce lá fora
A esperança que se redescobre
A cegueira boa que dá na hora
Que o sol surge do mar e sobe

As gaivotas que mergulham no mar
Em busca do peixe de cada dia
O descanso merecido do luar
Que dá vez a uma manhã luzidia

O fruto que revive da semente
A brisa que vem e vai embora
Seguindo a direção do poente
Sem ter pressa, sem ter hora

Respira o ar livre e perfumado
Que as flores emprestaram o olor
Agradeça o dom de estar acordado
Para viver uma vida com mais amor!

Deixa a chuva cair


E lá estava ela... No lugar onde menos poderia imaginar e de onde, hoje, não consigo me lembrar... Uma coisa é certa: era a entrada de algum lugar. Poderiam ser os portões cinzentos e sujos de uma faculdade, mas o lugar tinha mais cor. Poderia ser a entrada de um cinema, mas como o encontro foi por acaso, não poderíamos nos encontrar, os dois, sozinhos ali. Poderia ser a entrada de um estádio de futebol, muito provavelmente o Maracanã, num dia chuvoso. Sim. Maracanã. A imagem da memória acaba se autoconstruir (ou seria reconstruir?) na minha mente inquieta que teima em registrar poeticamente aquele momento.
Olhares surpresos... Um não sabia o que o outro estava fazendo ali, havia um certo espanto no ar. Um ar de mistério, como o olhar de esfinge que me desafia cotidianamente. Duas peles brancas, quase pálidas diante do sol que se escondia por trás das nuvens cinzentas de uma chuva que só chovia ao redor, mas não chovia em nós. Talvez estivéssemos sob a proteção de uma marquise, ou nem mesmo estivesse chovendo.
O ar de mistério continuava a se propagar, cada vez mais próximo daqueles olhos de jabuticaba verde (se é que existe jabuticaba verde) que vinham ao meu encontro. Poucas palavras foram ditas e essas poucas só queriam expressar o espanto naquele (re)encontro ali, naquele lugar tão insuspeitado. Não fazia muito tempo que os dois viriam se encontrar perto dali, numa comunhão do destino, num acaso planejado, numa coincidência prevista.
Mas o que viria em seguida era tão imprevisto quanto os olhares que se fitavam, inquietos, naquele frisson de mistério. Como era bom desbravar o desconhecido. Do nada, tudo ao redor parecia ter sumido: as pessoas, a chuva, o vento, o frio. Agora eram apenas os dois, nós dois. Quem somos nós? Quem éramos nós? O que somos nós? Por que estamos aqui? Estamos aqui?
Diante de tantas dúvidas, não parecia haver outra saída, senão concretizar aquilo que era inevitável. Do amor ao ódio, do ódio ao amor. Do amor ao amor. De um primeiro encontro a um derradeiro que poderia querer apagar o passado e despertar algo novo.
Foi então que, naquele ar de conquista, de mistério, insensatez, loucura, medo, apreensão e amor, tudo (ou nada) aconteceu: o encontro dos olhos fomentou e incendiou o encontro das bocas, que gentilmente se tocaram com a voracidade insana de dois leões que se atracam por um pedaço de carne. Os cabelos negros e esvoaçantes da mulher, emaranhados no pescoço do homem, envoltos nos perfumes opostos, que se perdiam no olor dos corpos em profusão. Em chamas.
Logo os braços começaram a se mover, como garras que se agarram com força, mas que ao mesmo tempo sabem acariciar com maciez e doçura. Uma doçura apimentada pelo ódio que os separava, mas que agora os unia pelo beijo. Nós, ali. Os braços que antes seguravam a cabeça, escorriam pelas costas frias, como os pingos de chuva que agora caíam sobre os corpos em chamas. Porém água alguma poderia apagar aquele fogo.
Demorados, intensos, inesquecíveis momentos. Uma vida em minutos, uma vida de amor e ódio naquele beijo maniqueísta, doce, naqueles lábios vermelhos como o sangue, num rosto pálido e frio como a neve. Doçura, tentação... Mordidas, carícias, olhares, pegadas, sentimentos puros e absurdos. Quando as bocas se separaram, se desuniram, o magnetismo inverteu seus pólos, o ódio se tornou amor. A raiva se tornou paixão. E aquele sonho acabou. Teria outro começado? Ela nunca existiu.

Amigo, meu amigo

Amigos distantes, sempre amigos
Reencontram-se a cada novo dia
Compartilham dos mesmos abrigos
Sorriem de sincera e pura alegria

Pássaro da amizade, fênix no céu
Cometa que mergulha e sobrevoa
Casamento que dispensa o anel
Pessoa que entende outra pessoa

Nem mesmo o tempo e a distância
Conseguem separar tanta união
De ontem, do berço, da infância
Amigo, verso, poesia e canção

Na música, na festa, na treva
Na alegria, na dor e na saudade
Amigo é um presente que se leva
Da vida para toda a eternidade!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O jogo começa agora

A bandeira ainda balança na varanda... O verde, o azul e o amarelo, que a maior parte das pessoas acha que simbolizam a mata, a água e as riquezas, mas que na verdade eram as cores presentes nas dinastias do nosso Império. Lá está ela. Ventando junto com o vento, brisa que carrega a refrescância e o suor de um Maracanã, a poucos metros de distância. A lua, de tão redonda, até parece uma bola de futebol. Nada mais propício para uma final de Copa. E a flâmula continua bailando com o vento. Em certos momentos ergue-se e fica suspensa no ar, como se uma nação invisível a sustentasse com a energia de um povo que luta. O movimento da bandeira no ar lembra os cabelos de uma mulher: soltos e levados pelo embalo do vento. O silêncio nas ruas é feroz. Só mesmo o barulho dos carros para romper com a tristeza da ausência de som. Uma chuva fina começa a cair, como se as lágrimas de um povo escorressem lentamente pelo céu febril de uma nação assustada. O futebol perdeu. Mas o povo continua. Dentro de poucas horas as pessoas começarão a retirar seus enfeites das casas, lojas, praças e avenidas... A seleção perdeu, por que continuar com bandeiras? A resposta é simples: porque a verdadeira Copa ainda vai começar. Todo ano de Copa é ano de eleição. Terminado o futebol, é a vez do espetáculo da democracia. Um voto vale mais do que um gol. O fair play é essencial para evitar faltas e corrupção. Tão distantes, mas tão próximos, a Copa e as eleições se encontram. A bandeira, símbolo do nacionalismo e do apreço pela seleção, deveria permanecer ao sabor do vento, erguida nas janelas de um berço esplêndido, ao som do mar e à luz de uma nação que brilha. Brilha por seus craques, dentro e fora de campo. Diferentemente da Copa, somos todos técnicos, com igual poder de escalação. Escolhemos nosso time, nossos craques, com responsabilidade, consciência e com a emoção de quem quer ver uma bandeira sendo erguida com orgulho a qualquer momento do ano. A minha bandeira não vai sair da janela. Essa é minha forma de protesto e o meu grito para romper com o silêncio do medo. A verdadeira Copa está começando. Vista o seu uniforme, envolva-se na sua bandeira e vote com consciência. Apito inicial. Que comece o jogo.