domingo, 5 de agosto de 2012

A subnutrida esperança


A subnutrida esperança

Marchando pelo solo arenoso
Em passos de despedida funesta
Sob o sol cruel, vilão e tenebroso
Ia a família com o suor na testa

Mais esquálidos e subnutridos
Que a derradeira esperança
Sangravam os pés doloridos
Da pobre e andrajosa criança

Com veias abertas e expostas
Os miseráveis paupérrimos do sertão
Carregavam o sofrimento nas costas
E a dor da partida no coração

Na frente rumava a cachorra
Que um dia trouxera felicidade
Na xícara quebrada só restava a borra
De um café catado na última cidade

O homem não tinha mais nome
A mulher já era uma Maria qualquer
Os velhos tinham morrido de fome
Da última refeição só restara a colher

Vida cruel, lugar ruim e miserável
Pobreza maldita, sujos e pegajosos
Por culpa de um alguém detestável
Definhavam como cactos espinhosos

Tão secas como aquele nordeste
Eram as bocas dos maltrapilhos
Que pelo barro fétido do agreste
Viam morrer de fome os seus filhos

Feito abutres, comiam os restos
Putrefatos na beira da estrada
Poderiam morrer, mas eram honestos
A lua era a lâmpada mais iluminada

Vida desgraçada dos retirantes
Se é que aquilo pode ser chamado de vida
Valentes, guerreiros e suplicantes
Eram a escória, gente não compreendida

O único direito legal era sofrer
A condição de ser humano não se aplicava
Era fugir da terra ou morrer
A subnutrida esperança era o que restava.

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