quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Na passagem


Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer choro nem lamentação.
Quero festa, salgadinhos e sobremesa
E minhas amadas levando meu caixão.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer que disfarcem minha velhice
Cobrindo minhas rugas num salão de beleza.
Quero deixar as marcas de minha rabugice!

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer o preto da dor.
Quero um ambiente de extrema pureza:
Alegre, saudosista, cheio de cor.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer filhos falando sobre testamento,
Pois terei deixado minha maior riqueza
Nas memórias e no meu conhecimento.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer mulher desesperada,
Nem mesmo ares de dor e tristeza:
Quero muita luz e muita risada!

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer terno de cerimônia.
Quero que se lembrem com destreza
Do velho romântico e sem-vergonha.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer falsidade nem inimigos.
Quero deixar o mundo com a certeza
Que deixei também um bando de amigos!

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Quero que minha amada chore sobre mim!
Pois viver um único dia sem sua beleza
Teria sido uma dor sem fim.

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer flores em ramalhete.
E quem tiver me tratado com aspereza,
Que lhe mandem para a casa do cacete!

Quando meu corpo estiver sobre a mesa,
Não vou querer nada além de alegria.
Desprezo o fausto, o luxo e a riqueza:
Só quero ouvir o som das palmas e de minha poesia!

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