segunda-feira, 28 de maio de 2012

Eu vi


Eu vi a flor nascer no meio do asfalto
E o amor brotar num coração asqueroso
Eu vi a soberba e a vaidade caírem do salto
E o perdão surgir de uma ser rancoroso

Eu vi o rico dividir todas as suas riquezas
E o pobre aceitar a ajuda sem preconceito
Eu vi a fé vencendo todas as incertezas
E a verdade impondo o seu respeito

Eu vi a tristeza dar lugar a alegria
E o homem despejar as suas emoções
Eu vi a paz vencer os dias de tirania
E a revolução integrando os corações

Eu vi muitas atitudes boas por aí
E ainda hei de ver muitas novas realidades
Quando o mundo inteiro, junto, sorri
Acabam-se todas as desigualdades


Um homem feliz


Sua vida é canção e boemia
É verso simples e soneto
É felicidade e melancolia
É branco, transparente e preto

É antítese e metáfora paradoxal
É terno e chinelo de dedo
É sessão solene e carnaval
É fofoca e segredo

Sua vida é silêncio e grito
É calmaria e turbulência
É realidade e mito
É pudor e saliência

Sua vida é um contraste
Ele é um eterno aprendiz
É bom moço e traste
Não passa de um homem feliz!


A noite é valsa, a noite é dança

O sol já se põe nos limites do horizonte
Os cais noturnos brindam o novo agora
Um rastro de luz fugidia beija a fronte
Da esperança que renasce a cada aurora

A imensidão do adeus se dá no poente
A cascata cristalina espelha a luz do luar
A canção dos pássaros é silvo que pressente
A quimera real das estrelas refletidas no mar

A certeza de um novo amanhã é verdadeira
É chama que aquece o nascer do novo dia
É gritar na escuridão e enxergar a clareira
Numa eterna, profunda e amiga sinestesia

Lá vem o sol novamente com raios de esperança
Já se vai a noite com sua esmera sinceridade
O homem sabe que a noite é valsa, é dança
Por isso entrega sua vida ao sol e à claridade.

domingo, 20 de maio de 2012

Perdido no (uni)verso


Adentrei num universo
À procura da poesia
Encontrei o amigo verso
Que me guiou noite e dia

Foi num livro que encontrei Camões
Quental e Fernando Pessoa
Me perdi em versos e canções
Ah, mas que noite tão boa!

Encontrei o Boca do Inferno
Mas ele era pecador demais
Compôs comigo um soneto terno
E me disse: “Até nunca mais”

Encontrei Augusto dos Anjos
Que vomitava a sua poesia
Em meio a cítaras e banjos
Escarrava e tossia com alegria

Encontrei Drummond de Andrade
E conversamos com o leiteiro
Estava mais vivo que na realidade
Era gauche, itabirano e companheiro

Encontrei Cecília... Que adorável!
Se era isto ou aquilo, não descobri
Era sincera, amiga e afável
Triste? Alegre? Poeta, sorri!

Encontrei Fagundes Varela
Que estava agora com seu menino
Uma cena tão profunda e tão bela
Num Cântico de um lindo destino

Encontrei os inconfidentes
Que me confessaram um segredo:
Não morrera o Tiradentes
Casara-se com Marília muito cedo!

Encontrei o amigo Bandeira
Que me levou numa viagem
Conhecemos a Pasárgada verdadeira
Mas que bela imagem!

Encontrei um tal de Fernando Pessoa
Ricardo? Álvaro? Alberto Caeiro?
O Menino de uma mãe tão boa
Não sabia seu nome verdadeiro!

Encontrei um tal Casimiro de Abreu
Que valsava o seu poema de amor
Quando passou o Cisne Negro
Com seus broqueis e uma flor

Encontrei um gênio dito Joaquim
Estava com sua amada Carolina
E com os filhos Bento e Capitu, enfim
vivia com sua menina!

Encontrei o Poeta dos Escravos
Que falou de amor como poucos
Falamos de rosas e cravos
Tiramos as algemas dos loucos

Encontrei um certo Quintana
Conversamos sobre o Anjo Malaquias
E quando o bilhete voava pela ventana
Vimos passar Gonçalves Dias

Encontrei um tal Poetinha
Que merece mais de um quarteto
Amigo... Mestre... Capetinha...
Me ensinou a fazer soneto

Me ensinou a compreender o amor
Pois vivera um Amor Demais
Me mostrou o segredo da morena flor
Seu nome era Vinícius de Moraes

Foi quando acordei desse mundo
E trouxe comigo as recordações
Guardarei para sempre esse sonho profundo
De poesia, versos e muitas emoções!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Hipnose enfeitiçada


Vil e meretriz, moça e senhora
Cruel e insinuante, crua e mentirosa
De face clara, rubra que se cora
Que se esconde sob sua pele perfumosa?

Tanta vilania em sua alma, quem diria
Escondida sob a fronte de ingenuidade
Em versos sombrosos de sua fantasia
Indecorosos como a sua falsidade

Lasciva e bela, serpente e donzela
Conquista e enfeitiça com seu veneno
Como resistir aos encantos dela
E não beijar seu seio macio e pleno?

Lança seu cabelo, petrifica com um olhar
Espectro mosaico de uma única cor
Ofega, hipnotiza e ataca, sabe sufocar
-Senhora, é seu o meu amor.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mundo do face


O mundo anda muito globalizado
Talvez globalizado até demais
Hoje uma simples foto e um recado
Viram notícia em perfis e murais

Mundo feicebuquizado, em bom português
Quantas mentiras em cada curtição?
Quantas publicações você já fez?
Compartilhe, mas com moderação!

Pessoas se escondem por trás de um perfil
Tiram fotos pensando em quando vão postar
Choram quando ninguém as curtiu
E pior, se sentem mal se ninguém comentar

Frases soltas de Caio Fernando Abreu
Fazem do ignorante um culto poeta
Compartilha frases que nunca leu
Enquanto outros curtem de forma aberta

Quanta falsidade por trás de uma tela
Em contraste com as benfeitorias da tecnologia!
Salve o mundo irreal mais realístico de cada janela
Facebook, internet... Realidade ou fantasia?

terça-feira, 8 de maio de 2012

A esperança e os sonhos

“A esperança é o sonho do homem acordado”
Disse o filósofo, muitos séculos atrás
Entretanto, a precisão desse enunciado
Preenche as nossas vidas nos dias atuais

Quem nos dera sermos dignos de esperança
Aquela verdadeira, que contradiz a razão
Seja uma brincadeira simples de criança,
Seja o desejo mais profundo de um coração

É estar sonhando acordado o tempo inteiro
Com uma verdade concebida no âmago do ser
É lutar por um anseio primeiro e derradeiro
É um ideal revolucionário que alimenta o viver

Sonhos, esperanças, anseios, desejos, utopias
Realidade, desgosto, razão, loucura e tino
Viver sem um sonho profundo e sem fantasias
É morrer a cada dia na inércia de esperar o destino.

Aparência e essência

Quem vive apenas de aparência
Acaba tendo um choque de realidade
Quando percebe que a própria essência
Resume-se a criar e cultuar uma inverdade

A aparência conquistada pelo exterior
Deixa transparecer apenas o superficial
Preenche um vazio imenso no interior
De uma escravidão desumana e paradoxal

O homem, escravo do próprio homem
Escravo da aparência que o constrói
As mentiras e a insegurança o consomem
Enquanto ele mesmo se destrói

As forças opostas lutam pela dominação
A essência luta para tentar aparecer
Mas a aparência ofusca a beleza do coração
Com seu ouro que só reluz, sem nada conter.

Liberdade




Liberdade

Há sempre um vilão dentro de cada mocinho
E um herói dentro de cada antagonista
Em toda porta fechada há um caminho
Em todo homem resoluto há um artista

Cobiça extrema, capitalismo, dinheiro
São capazes de fazer o homem matar
Assassinar a própria liberdade, coveiro
Enterra a flor que seus pais o fizeram plantar

Chora a humanidade, sofrem os honestos
Choram mães, sofrem os filhos perdidos
Os dias são tristes, amargos e funestos
Os dons são abafados por vícios bandidos

Onde estará o mocinho de cada vilão?
Onde estará a justiça e os princípios de igualdade?
Onde estarão os sonhos de um coração?
O mundo clama por um único direito: liberdade!


Eu digo salvem



Eu digo salvem

Salvem as gotas de orvalho
E as douradas maçãs do sol
Protejam as folhas do galho
E também as pétalas do girassol

Chuvas e prantos, única mistura
Abastecem um rio caudaloso
Entre flores mortas e seiva pura
Renasce o fruto tão misterioso

Salvem o verde e as matas
Salvem os bichos e todo ecossistema
Salvem os rios, as geleiras e as cascatas
Vamos acabar com tanto problema?

Protejam o mundo, a natureza
Salvem e lutem pela bandeira da Ecologia
Preservem a fonte inesgotável de riqueza
Que não cabe nesta simples poesia.

Um amor medieval



Nas fortalezas de um feudo
Havia um nobre cavaleiro
Que lutava em segredo
Por seu sonho verdadeiro
Era bravo e corajoso
Herói, mocinho e vilão
Embora não fosse tão ditoso
Tinha um grande coração
Defendia o seu senhor
Protegia os seus pais
Era um grande trovador
Lutava pelo bem e pela paz!
Batalhava mascarado
Não revelava sua identidade
Tinha um sombrio passado
Ninguém sabia sua verdade!
Chegara depois de moço
Fora adotado por camponeses
Que eram donos de um poço
E acolheram-no por meses
O tempo passou, deixou o lar
Mas não se esqueceu dos seus
Sempre voltava para ajudar
Era mais um filho de Deus.
Esse destemido cavaleiro medieval
Tinha uma grande amada
Seu nome era segredo sepulcral
Guardado na ponta de sua espada
Certa vez foi recrutado para uma batalha
Contra um temido senhor suserano
Não poderia levar nem uma migalha
Poderia lutar por mais de um ano!
Saiu com sua máscara de ferro
E com seu escudo de proteção
Antes deu um sonoro berro
E partiu com seu cavalo bonachão.
Foi posicionado na linha de trás
Demoraria para chegar a sua vez
Mas os seus morreram cedo demais
Na linha de frente sobraram três.
Com a ponta de sua espada feriu um rival
Foi então perseguido por outro cavaleiro
Nenhum deles queria o mal
Eram obrigados o tempo inteiro
O trovador resolveu fingir-se de morto
Após um golpe que o atingiu de raspão
Caiu no chão, imóvel e absorto
Depois de horas, foi embora o batalhão.
Levantou-se sob o sangue empoçado 
Viu o corpo de um grande camarada
Sentiu-se extremamente amaldiçoado
Poderia ter sido a sua amada.
Recolheu suas tristezas e seguiu seu caminho
Voltava ao reino de seu senhor
Nunca estivera tão sozinho
Quando se deparou com uma flor
Nascida no meio da terra arenosa  
Naquela mistura de sangue com suor
Brotara a flor, bela e formosa
Inspirou-lhe a dar o seu melhor
De volta ao reino resolveu ser feliz
Todos davam como certa a sua morte
Era o cavaleiro que sobrevivera por um triz
Estava lançada a sua sorte
Todos queriam saber quem era o ditoso
Todas as donzelas o queriam sem tê-lo visto
Mas o trovador sentia-se desgostoso
Por não ter o seu amor tão bem quisto
Não revelaria jamais a sua identidade
Pois sua amada não o quereria
Foi quando teve a ideia e a maturidade
De compor-lhe uma cantiga de poesia.
Seu senhor armou-lhe um palco pomposo
Onde ele deveria descobrir seu rosto
Foi quando cantou sua lira, tão amoroso
Que sentiu na boca um doce gosto:
“Minha donzela, rainha de meu coração
Serpente, bela, enfeitiça meus dias
Doma este seu branco alazão
Provoca as mais belas alegrias
Amo-te como cavaleiro, como amante
Num amor sincero e verdadeiro
Neste simples verso galopante
Declaro o teu nome primeiro
Rainha bela, doce e imaculada 
És a razão de toda a minha sabedoria
Donzela, minha alma está enfeitiçada
Pela tua beleza, oh bela Sophia”
Naquele instante surge no meio da multidão
Uma jovem e delicada mulher
De cabelos loiros, castanhos
Do jeito que o trovador quer
De seios formosos e tamanhos!
Com seu vestido de seda esvoaçante
De menina mulher encantadora
Naquele mesmo instante
Ele retira sua máscara assustadora
O MUNDO PÁRA! AS RIMAS SE PERDEM!
O BEIJO ENFIM ACONTECE!
O povo aplaude, sua mãe chora
Seus amigos riem, seu pai comemora
Sophia era sua amiga de criança
Mas o destino o separara de seu amor
Tudo o que deixara fora a esperança
De um dia reencontrá-la, destino sofredor!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

(A) A procura do verso


Verso fugidio, escorre por entre as linhas
Inspiração tola, teme o pensamento interno
Palavras de todos, palavras minhas
Um poema, um sentimento eterno

Grafia, vocábulos, sons, figuras
Rimas, métrica, eu-lírico, linguagem
Doces, gostosas e trabalhosas aventuras
Em busca da mais perfeita imagem

Uma forma de expressão verdadeira
Uma estátua esculpida com pincéis de pintor
Uma melodia única, aprazível e certeira
Que invade os ouvidos de seu compositor

A procura do verso é eterna para o poeta
À procura do verso está a inspiração
Que se faz numa ponte concreta
Entre a elegância da linguagem e a simplicidade do coração.