quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Abnegação

Esse é um texto poético um pouco diferente dos que eu faço... Faz dois anos que o escrevi...

Que chovam pétalas em teu jazigo. Tu, que por muito fostes meu melhor amigo, hoje é apenas página virada de um folhetim, que está muito longe do fim. Criaste ilusão em minha mente, eu, apenas um adolescente, sofri de verdade, culpa talvez do meu excesso de maturidade. Que se passem dias e noites de primavera, que o mundo amanheça numa nova era, mas que tu demores muito tempo a aparecer em minha vida, já que a deixastes tão malferida. Acabastes com o meu sonho de florir a roseira, fizestes morrer minha esperança derradeira.
Gostava tanto de ter-te no peito! Eras tão imponente e digno de respeito! Mas hoje nada mais és que brasa desinflamada, que pulsa totalmente inerte e descompassada no coração que outrora fora pulsante, mas hoje é apenas inconstante. Não me desfaço do tempo que tive por ti a admiração, mas hoje, me perdoe, és apenas uma péssima recordação.
As rosas caíram junto com as maçãs douradas do sol, meu canto silenciou-se junto ao do rouxinol. Pelas palavras vãs que lhe foram proferidas, pelas antigas e futuras despedidas, farto-me da tua insensatez, que hoje resulta-me em altivez.
Pelos poetas que sofreram por ti, te renego ao destino, hoje eu te entrego, oh despótico ditador que profere chamas fumegantes de ardor. Colhestes tantas lágrimas de desilusão, proferistes tantas palavras de desolação! Acabo tendo que dispersar-te junto ao rio dos sentimentos findados, que desaguarão em mares nunca dantes navegados.
Pelos corações que entristecestes sem pesar, pelos pobres que destruístes sem antes pensar, condeno-te a viver eternamente cercado por tristeza e melancolia, para que jamais floresças em minha poesia!
Podes ter a certeza que as lágrimas que me fizestes derramar, somente no meu passado hão de estar, pois não hei de vingar-me de quem merece desprezo e esquecimento, mesmo merecendo ser castigado pelo meu ressentimento. Chamas róseas hão de apagar às tuas costas sem nenhum aviso, e assim perceberás como é triste causar tristeza por falta de juízo.
Nada mais podes deixar senão carência, pois imaculada seja a tua indecência. És fogo que arde sem se ver, como já dizia o poeta, mas devo criticar-te pela ferida incerta. Chegam as rimas à escassez, quando sinto vontade de apresentar-te logo de uma vez.
Porém agora sinto que é chegada a hora de trocar em miúdos contigo e sepultar-te de vez em teu jazigo, ao som da marcha fúnebre de bossa nova que entoava durante a tentativa frustrada de declaração em forma de trova.
Oh, tu que és vilão em todas as histórias, oh, tu que és mocinho nos momentos infames de glórias. Pergunto-me porque és tão excruciante, deveras sendo tão alucinante e inquietante. E se homem algum há chegado perto desse místico sentimento que rima e causa dor, não vejo outra saída senão dizer: Abnego-te hoje, oh amor.

3 comentários:

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  2. Você é um escritor maravilhoso, Filipe. Simplesmente apaixonante! NUNCA perca isso. Desenvolva-se cada vez mais e não deixe esse seu talento de lado, ele é raro. Parabéns

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