quarta-feira, 29 de maio de 2013

A essência do romance: homem e mulher, colombina e pierrot


Os corpos unidos em forma de poesia
Tamanha voracidade não cabem na cama
As cobertas se perdem em noite de heresia
Mas não faz mal para quem tanto ama

O desejo se confunde com a marca nos lençóis
Os olhares se perdem, multifacetados
São raios intensos como dois sóis
Espelhos que refletem a alma dos apaixonados

Passada a noite de volúpia e desejo
Amanhecem os dois em histeria profana
Muito mais que despertar com um beijo
A paixão é uma sanidade insana

Café na cama dividido nas bocas frias
Geleias de fruta com doce de brigadeiro
Volve ao peito os pulsares em euforias
A cama se torna novamente um picadeiro

E nesse circo de palhaços despidos
A noite se transfigura feito magia
E dentro da cartola: seios e braços, os dois perdidos
Amam-se em beijos, toques e fantasia!

A locomotiva do mundo: abelha nos sonhos de um elefante


Roda-gigante impassível de mudança
Eixo que se torna foco principal
Sonho que se torna ironia de criança
Anseio humano que se torna animal

Um tornar-se tão irresistível e louco
Que altera, muda, transfigura enfim
Faz do grito áspero e tão rouco
Um brado suave ao som do clarim

Mundo, planeta, sociedade, sistema
Rodamoinho, giro circular errante
Senhor do tempo e do problema
Abelha nos sonhos de um elefante

Na abstração se enclausura, faz morada
O egoísmo do não querer transformação
A massa, o ser, a mente tão conformada
Aceitam a passagem da locomotiva opressora do mundo, sem reação!

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Inquietações poético-filosóficas


Ser ou não ser: eis a questão!
É preciso sair da caverna escura
Enfrentar as palavras de Platão
E chegar ao mundo da loucura

É preciso ter cuidado nessa vida
Em busca de uma vã Filosofia
Olhar com cautela a ferida
E enfrentar as vozes da sabedoria

Mas quem me convidou para o banquete
Onde comem os filósofos do passado?
É como se cantasse em falsete
Numa mesa onde se come calado

Sócrates, Aristóteles, Rousseau
Que me perdoem... São todos "difícils" (e cheios de vícios)
Que os sábios leiam Heidegger e Foucault
Pois apesar de tudo sou poeta: ainda prefiro Vinícius!

Monologando com a existência


Pediram-me: Não vá! Não busque a felicidade!
Era necessário fincar os pés sobre a ignorância
Não vá! Não busque conhecer a verdade!
Era preciso manter meu espírito ainda na infância

A despeito das negativas e ameaças de choque
Saí em busca do conhecimento perdido
Fui afastado sem nem mesmo um toque
Pela vibração do meu destempero corroído

O sagrado se travestia de profano
A razão se mancomunava com o sentimento
Círculos concêntricos de um mesmo auto-engano
A explicação da palavra não servia de alento

Foi quando me prostrei diante da minha cruz
A cruz do medo, do egoísmo e do orgulho vilão
Pecar contra si mesmo é fogo que reluz
Morrer na dúvida é teimosia. Eis a minha reflexão.